Uma redefinição de metas, habilidades e estratégias com dicas valiosas para novas oportunidades de carreira

 

1- O cenário de mercado de trabalho para mulheres entre 45 e 60 anos

Para entendermos como está a empregabilidade e o desemprego em geral das pessoas a partir dos 40 anos de idade no 2º trimestre de 2023, a PNAD Contínua (IBGE, 2023), demonstra que a força de trabalho, tanto de homens como de mulheres, se constitui de 104 milhões de pessoas. Especificamente, o número de ocupados é o de 37 milhões entre 40 e 59 anos de idade e de 7 milhões aos 60 anos ou mais de idade. Até o período mencionado, o número de pessoas desocupadas ou desempregadas era de 8 milhões, sendo desse total, 5,3% compreendidas na faixa etária entre 40 e 59 anos de idade e, 3,4% com 60 anos ou mais de idade. As regiões brasileiras que se destacam na ocupação de algum trabalho são o Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e o Sul, este, especificamente, para os grupos dos 60 ou mais de idade. Ou seja, o desemprego a partir dos 40 anos está menor do que o total; 8 milhões de pessoas. O importante é considerar nesse cenário, uma cultura de consciência social e da intergeracionalidade quando se trata da retenção ou da manutenção desses trabalhadores.

O mercado de trabalho na Holanda e Estados Unidos considera o trabalhador mais velho a partir dos 40 anos, já a Espanha, Itália e a França, aos 45 anos e entre os 50 e 55, a Bélgica, Reino Unido e União Europeia. Essa régua do envelhecimento possui denominações pouco atrativas a esses profissionais, tais como, trabalhadores da idade madura, deslocados, desencorajados, último recurso, desfavorecidos, cabelos grisalhos e talento cinza que indicam tempo de validade na carreira profissional a partir da falta da intersecção de gerações e da generalização dos ciclos e desenvolvimento psicológico e físico. É preciso tomar cuidado, pois os valores, condutas, experiência, visão de mundo, papeis são diferentes entre uma pessoa com 40 anos e outra com 60 anos de idade.

Desde o 2º trimestre de 2014, comparado aos homens, as mulheres têm sido a maioria entre outros grupos em idade de trabalhar em todas as regiões brasileiras. No 2º trimestre de 2023, elas representavam 51,7% dessa população. A presença de mulheres no mercado de trabalho com a idade de 40 anos tem sido crescente nos últimos cinco anos, porém com poucas vagas em cargos de liderança sênior desde 2020, mesmo com o advento da diferença de salário de até 22% menor que a dos homens.

Historicamente, a presença das mulheres nas empresas tem uma relação flutuante com os períodos das Grandes Guerras Mundiais, quando da ausência dos homens na força de trabalho.

Creio que em determinadas profissões, infelizmente, a discriminação se direciona mais para as mulheres do que aos homens que são percebidos como pessoas mais experientes e estáveis, mais disponíveis à carreira sem-fronteiras considerando a interrupção da carreira da mulher quando da época da maternidade e do efeito op-out – termo que surgiu nos Estados Unidos, em que mulheres a partir dos 40 anos de idade, altamente qualificadas, bem-sucedidas, talentosas e com formação educacional diferenciada optaram por desempenhar papéis domésticos em vez da carreira corporativa. A presença com maior efetividade da mulher no mercado de trabalho, historicamente, decorre a partir da década de 1960- até então, a exclusividade de sucesso na carreira era dos homens, o que se pode deduzir da presença pouco expressiva de mulheres em cargos estratégicos de liderança. Há posicionamentos científicos da dificuldade de mulheres no exercício de cargos mais complexos por não serem determinadas, independentes, de confiança e assertivas, tanto quanto os homens. Outra abordagem é a de que o sucesso profissional para as mulheres pode representar derrota no reino matrimonial, ou seja, mulheres ambiciosas pela carreira profissional possuem dificuldades de encontrar parceiros elegíveis, pois o sexo masculino não vê atratividade nesse posicionamento.

Até 2026, compatível com a União Europeia, a CVM – Comissão de Valores Imobiliários poderá exigir a diversidade de gênero e a presença de grupos sub-representados em cargos de liderança estratégica – que considero cargos ocupados com pessoas a partir dos 40 anos de idade, nos conselhos administrativos ou diretoria estatutária das empresas listadas na bolsa de valores. Das 343 empresas listadas, 55% não possuem mulheres entre os diretores estatutários, de acordo com a B3, empresa de infraestrutura do mercado financeiro. Outro marco recente foi a aprovação da igualdade salarial e remuneração entre homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro.

 

2 – Redefinição de metas de carreira às pessoas após os 50 anos

Nos estudos acerca dos profissionais com idade a partir dos 50 anos há estreitamento na carreira e no emprego à medida do envelhecimento, mesmo não se percebendo limitado para realizar atividades em geral.  O mercado global de trabalho contará cada vez mais, com a presença de pessoas saudáveis entre 50 e 70 anos de idade, em decorrência do declínio da porcentagem de jovens trabalhadores e da crescente competição por mão de obra qualificada. Estamos mais longevos e a extensão do tempo de vida das pessoas tem recebido contribuições das ciências e de processos que ampliam a qualidade de vida das pessoas. No Brasil, a expectativa de vida em 2050 será de 81 anos e em 2100 será a de 80 anos para os homens e de 86 para as mulheres. Porém, a empregabilidade interliga-se ao nível de acúmulo de conhecimento, maior produtividade, valor econômico do profissional percebido pelos empregadores, amplo conhecimento cultural e do desenvolvimento da rede de relacionamentos.

As empresas estão com o desafio de aprender a lidar com pessoas entre 51 e 68 anos de idade, além da administração produtiva e econômica. Para as pessoas com mais de 50 anos de idade o trabalho é papel social importante tanto quanto familiar. É a partir do trabalho que as pessoas se sentem parte da sociedade e transmutam seus valores. A idade dos 50 anos representa o ápice da atividade intelectual e produtiva e retrata o caráter do adulto como aquele que tem confiança, inspirações e clareza sobre o se busca na carreira. Os parâmetros desafio, equilíbrio e autenticidade estão presentes na carreira profissional, interagem entre si e mudam de grau de importância de acordo com os ciclos da vida que a pessoa se encontra e podem se configurar com práticas de análise vocacional e educacional.

Os profissionais com 50 anos ou mais apreciam a estabilidade no emprego, são pessoas dedicadas e dotadas de responsabilização- traz para si a responsabilidade. Essa fase remete às escolhas próprias, a de valorizar a opinião do grupo e a formação de sucessores ocorre entre os 49 e os 56 anos. Faz-se presente a alegria em compartilhar aos mais aos mais jovens aprendizados já adquiridos.

É condição natural a revisão dos valores e perspectivas dos 56 aos 63 anos, pois representa a transição para a velhice e assim, o revisitar o que já foi feito e o que falta fazer revela estabelecer um envelhecimento mais feliz e de concretude. Acredito que as mulheres na sua fase racional buscam estar inseridas em algum trabalho que pelo menos representa sonhos adormecidos.

 

3 – Habilidades particularmente valiosas para novas oportunidades de carreira no mercado de trabalho após os 50 anos

O mundo do trabalho contempla a necessidade de se ter profissionais com um perfil eclético nas competências diante da produção de resultados em sinergia com as exigências das empresas. A principal habilidade das pessoas com 50 anos ou mais envolve as sociais. Significa manter a qualidade nos relacionamentos interpessoais, com o estabelecimento de uma comunicação clara, empática, íntegra e motivadora. De modo geral os empregadores preferem as habilidades sociais dos funcionários a habilidades técnicas ou de conhecimento. A habilidade de aprendizagem contínua é essencial na carreira da atualidade, pois se relaciona ao autoinvestimento para a obtenção do sucesso profissional e deve abranger a realização de atividades que promovam a conquista de empreendimentos importantes na carreira, a eficiência na execução do trabalho, a disponibilidade para aprender novas atividades e a capacidade de reconhecer os próprios pontos fortes e os que carecem de melhorias. É salutar a busca por atividades que combinem com as competências de domínio positivo, em vez de competir em desvantagem com pessoas mais jovens.

A partir dos 50 anos de idade a generatividade é uma força do ego (eu). É entendida pela procriação, orientação e zelo à nova geração, boas ideias e criatividade para lançar novos produtos e autodireção da identidade. Há nessa força interna, a reflexão sobre a vida, avaliação do que foi conquistado, metas alcançadas – e quais se pretende deixar para a posteridade – e contribuições para melhorar o mundo. A generatividade envolve não só cuidar da família, como também da sociedade e das futuras gerações. O prazer em divulgar conhecimentos, ser mentora, trabalhar com processos de ensinamentos educacionais, técnicos, de desenvolvimento representa retribuir ao mundo os próprios aprendizados nas fases imaginativa (42-49), inspirativa (49-56) e intuitiva (56 anos ou mais).

 

4 – Estratégias (ou dicas práticas) para que os profissionais 50+ possam destacar suas habilidades e experiências ao explorar novas oportunidades de carreira

Buscar ou estar em ambiente de trabalho que se identifica, convergente aos valores e reconhecimentos que se deseja ou que pertencem ao contrato psicológico. Compartilhar os contratos psicológicos com a respectiva liderança, pois isso evita frustrações. Estar em ambiente de trabalho que propicia uma carreira de sucesso transversal, dotado de desafios, mudanças e participação em projetos que agregam valor tanto para os negócios da empresa como para a própria profissional. Ter disponibilidade para novos aprendizados que envolvem direta ou indiretamente o crescimento profissional. Ser uma pessoa presente nas suas redes sociais, a partir do estabelecimento de contatos com outras pessoas ou grupos de trabalho que auxiliam na propagação do perfil profissional, mediante oportunidades de emprego ou trabalhos, tanto interno como externo a empresa. Ter mentores de carreira que possam analisar em conjunto possíveis entraves pontuais na carreira de forma a concentrar em si essa administração. Cuidar da saúde física e emocional, mantendo o equilíbrio entre o corpo físico e etérico (vitalidade), astral (emoções mais positivas do que negativas) e espiritual. A espiritualidade é entendida como o propósito vivenciado com o grupo em que está inserida, quer seja social ou de trabalho, em que o senso de pertencimento é forte elo e que conjumina com o sentido de comunidade, alinhamento com os valores da empresa e trabalho com significado.

É fato a presença da discriminação ou ageísmo nas empresas com relação aos profissionais com mais de 50 anos de idade. O ageísmo pode ser percebido nos processos de seleção de pessoal, nos treinamentos e nas promoções/mudanças de cargos, dotado de estereótipo mental que carregamos sobre o envelhecimento, justificando as dificuldades dessas pessoas em buscar emprego ou de se manterem empregadas. Uma das possibilidades de contenção do ageísmo é a realização de trabalhos que representam responsabilidade socioambiental, conhecimento prévio da empresa sobre a cultura dos processos, das pessoas e das lideranças sobre os profissionais mais velhos.

O aperfeiçoamento no que já se sabe fazer, significa atualização, aspecto decorrente das mudanças frequentes que nos deparamos, tanto tecnológicas, como processuais. Dessa maneira devem constar no currículo, para ampliar a diferenciação em processos de seleção de pessoal. O nível superior de escolaridade ou conhecimentos em línguas estrangeiras não são fatores exclusivos para o alcance da empregabilidade, ou seja, sempre que possível faça bons cursos e obtenha conhecimentos e não apenas certificados.

Mediante a mudança de carreira ou de empresa é importante ter clareza sobre a empresa que se identifica, em se tratando de nicho e de porte. O empreendedorismo é um aspecto que se deseja atuar. O número de mulheres em busca da criação de seu próprio negócio vem crescendo, porém há de se considerar adequação de perfil, expectativas de longo prazo e o suporte de organizações para estudos e orientações de viabilizações.

Sendo as mudanças recorrentes, é importante conhecer o tipo de vínculo de trabalho que se pretende, se formal ou não, part-time ou consultoria de projetos. Os empregos formais vão continuar existindo, porém serão fatias cada vez menor na economia global. A questão salarial é aspecto que representa status social e financeiro – aspectos que podem ser alcançados pela superação de desafios. Em um mundo ideal, empregos seriam fartos, competitivos e bem-remunerados. A maioria das oportunidades de emprego tem duas dessas qualidades, mas não necessariamente todas as três.

 

Artigo escrito com carinho por Profa. Dra. Maraí De Freitas Maio Vendramine