Há três anos, a pedagoga Solange Vilella fundou o projeto Conexão Melhor Idade, que tem como missão compartilhar conteúdos relacionados ao meio digital, tecnologias e carreira para pessoas acima dos 60 anos, a fim de motivá-las a se inserirem no mercado de trabalho, a partir de sua bagagem, reciclando ideias e aprendizados.

Pós-graduada em relações do trabalho pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), e especialista em capital humano pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), ela diz que tem como prioridade lutar por causas que possam melhorar a qualidade de vida e aumentar o respeito e o equilíbrio entre as gerações.

“O Brasil será, em poucas décadas, um dos países com o maior número de idosos do mundo. Aqui, o mercado de trabalho ainda é limitado para eles. Caminhamos a passos tímidos nessa direção, e o caminho é longo, lento e ainda existe muito preconceito para a reinserção das pessoas com mais idade. É necessária a conscientização da sociedade como um todo: governo, empresas, ONGs e também os jovens”, comenta.

Para Solange, uma indicação interessante para tratar essa questão é a possibilidade de se promover reciclagens profissionais. “Assim todos ganham. Os longevos ganham uma possibilidade de reinserção profissional mais representativa e os jovens ganham com a experiência dos mais velhos. É uma troca muito rica e que cria sinergia entre as gerações”, complementa.

Para saber mais sobre o tema, confira a seguir a entrevista concedida pela pedagoga à Revista Home Angels.

POR QUE VOCÊ CRIOU O CONEXÃO MELHOR IDADE?
O Conexão Melhor Idade surgiu há três anos como um projeto para a minha vida pós-aposentadoria. Veio da vontade de continuar contribuindo com a sociedade, de criar algo em que eu pudesse usar a minha experiência pessoal e que agregasse valor na vida das pessoas que se encontram na faixa etária a partir dos 60 anos, visando a motivá-las a se inserirem no mercado de trabalho a partir de sua bagagem, e incentivando-as ao meio digital. Nesse processo, obtive a consultoria da jornalista e empreendedora do Marketing de Gentileza Laíze Damasceno, que me ajudou a formatar a proposta.

QUAL É O PRINCIPAL OBJETIVO COM ESSE PROJETO?
É mostrar para as pessoas acima de 60 anos que é possível se manterem atualizadas e dinâmicas para essa outra fase da vida. O projeto objetiva também levar os indivíduos a eventos, como palestras com orientações sobre os mais diversos temas ligados aos meios digitais, criando uma cultura de comunicação e possibilidades entre eles.

COMO O CONEXÃO MELHOR IDADE FUNCIONA?
Atuamos divulgando, no meio digital, histórias de vida enriquecedoras de pessoas que falam sobre suas trajetórias profissionais e que hoje estão acima de 60 anos e se mantêm ativas. Mesmo em outra fase, ainda podem continuar contribuindo com a sociedade e criando uma vida com mais interação nos meios digitais e mais felicidade.

São exemplos que podem levar outros indivíduos a se motivarem para uma requalificação, novas possibilidades ou mesmo para que pessoas com mais idade possam vir a participar dos meios digitais disponíveis e se inteirar com outras pessoas.

COMO VOCÊ VÊ O USO DAS TECNOLOGIAS PELAS PESSOAS MAIS LONGEVAS?
Acho extraordinário ver alguém de 80 anos digitando e usando o celular no dia a dia. A tecnologia traz a inclusão e permite a interação entre amigos, familiares, o acesso a filmes e vídeos, conhecer lugares… ela encurta as distâncias e diminui a solidão nessa fase da vida. Tem uma propaganda de um banco que reúne várias amigas, elas pedem pizza pelo aplicativo, pagam pelo celular e depois, quando vão embora, chamam o táxi pelo app. É exatamente a sensação de pertencimento que o uso da tecnologia traz.

DE QUE OUTRA FORMA A TECNOLOGIA PODE SER BENÉFICA PARA ESSA PARCELA DA POPULAÇÃO?
Minha mãe tem 80 anos, mora no interior e quando fez uso do WhatsApp pela primeira vez foi incrível. Parece que ficou mais jovem, mais feliz. Hoje ela se comunica com todas as irmãs, em diferentes estados. Foi um passo maravilhoso e um exemplo. Ela tem a sensação de poder fazer coisas novas de forma mais rápida.

Outro exemplo é o de uma amiga de 89 anos que viaja sozinha pelo mundo. E quando a questiono sobre sentir-se sozinha ela me diz que em todos os lugares onde está sempre tem alguém à sua espera, não se sente só, tem o celular viajando com ela. Tudo isso é a tecnologia que faz.

COMO É INTRODUZIR O IDOSO NESSE UNIVERSO?
O primeiro passo é estimular a pessoa idosa a começar por aquilo que ela mais gosta e sente prazer. Uma receita de bolo, um bordado, dicas de viagens… O início tem que ser devagar, sempre estimulando e procurando perceber seus pontos fracos e fortes. É como a aprendizagem de uma pessoa que inicia a leitura ou a escrita. É preciso ser de forma didática, e com muita paciência e carinho.

QUAL É A SUA DICA PARA MANTER OS MADUROS ATUALIZADOS EM UM MUNDO ONDE TUDO MUDA O TEMPO TODO E NÃO SE PERDER EM MEIO A TANTAS POSSIBILIDADES?
Não é fácil acompanhar. Até para os mais jovens, que dirá para os mais longevos. Não há a necessidade de se saber tudo de uma vez, nem todas as coisas. O que é importante é mantê-los ativos por meio da tecnologia e motivá-los ao aprendizado constante. Fazer amigos e poder conversar é uma tarefa que permite à pessoa reavivar o seu passado, suas emoções e é um resgate do tempo, traz pertencimento. Ter em mente que as possibilidades são muitas, mas manter o foco naquilo que os deixam mais felizes e em uma atividade cerebral que contribua para uma saúde mental equilibrada é o mais importante.